Tuesday, August 30, 2005

O drama de Agosto para quem tem a sina de ser professor ou A louca corrida.

A mais louca corrida do ano….
Parece que não me calhou um lugar, uma vez mais nesta corrida para a qual não há um treino possível, um energético que faça a diferença, um critério que avalie a vontade e o empenho. Não tive um lugar. E sempre que isto acontece, sentimos que o pódio não esteve ao nosso alcance, ainda que estivesse próximo e visível todo o tempo. Quando nos sai este resultado o sentimento é de derrota, tristeza, e cada atleta desta louca e longa maratona acaba mais perdido, mais à toa, mais desgastado. È nesta altura, sem palmas, medalhas, orgulho de si ou dos outros, que os sorrisos diminuem, se franzem os sobrolhos e surgem as perguntas: E agora? Continuo? Mudo o rumo da caminhada?
Os professores são atletas de maratona nos dias que correm. Porque estoicamente, com grande dose de fé e contra adversários e obstáculos imponentes (oceanos de tempo de espera, número colossal de directos concorrentes, opções geograficamente sádicas , e um sistema que em muito se assemelha à lógica do totoloto, onde tudo se resume a um bailado de números) os professores, dizia, correm, permanecem na corrida, na tentativa de alcançar uma meta, que é a conquista do seu posto de trabalho: e a distância em quilómetros deixa, para estes, por momentos, de estar correlacionada com grau de felicidade sentido pela colocação. Até o longe mais inóspito pode parecer apetecível para quem tem tido ondas revoltas por casa, um sítio firme sabe bem.
A escola, os horários, as turmas, os conteúdos dos programas, os testes, os alunos, são hoje, e já estamos no final de Setembro, apenas palavras conceito a que não posso dar uma realidade ainda. Tudo o que faz parte de uma profissão que faz parte de mim está agora em suspenso, em espera. Para um programa informático tudo se resume a dados e números, com a fria cegueira da lógica operativa e a certeza tirânica de operações automáticas. Mas cada professor é mais, bem mais do que um número de ordem: é, numa apreciação global, um percurso de formação, um percurso de profissão, um caminho de constante adaptação e actualização. Amigos íntimos da novidade, todo o ano lectivo o professor tem novos alunos para conhecer, cativar, ensinar e idealmente marcar enquanto incitador do conhecimento, transmissor do conhecimento, modelo de atitudes, referência para alguns.
Pergunto-me, porém, como será o professor visto este ano pelos seus alunos, que facilmente terão notado como foi o tortuoso processo de colocação? Como respeitar quem não consegue respeito do Ministério? Serão os alunos de 7º ano mais respeitadores do que o Governo? E que fará o professor ao aluno que não entregar o trabalho na data marcada por alegados problemas informático?
No fim das contas, tudo isto pode resumir-se a um mau exemplo ou um exemplo de coisas que ensinamos que estão erradas: exemplo de falta de consideração e respeito pelos professores sem qualquer panaceia económica, exemplo de falta de palavra e cumprimento ao dilatar datas e prazos. Estas são atitudes que mereciam falta disciplinar.
Para muitos, mal ou bem, o ano está a começar. Oxalá consigam esquecer esperas e angústias, percorrer longas distâncias e receber de dentro a motivação para cada 90 minutos com os alunos. Oxalá disfarcem a tristeza de viver num país que não mostra carinho e respeita, mas que toma por certo que a cada toque da campainha da escola o professor compareça
Para quem é professor o toque marca o início do que realmente importa. Mas este ano para muitos,como sempre ou mais, não houve ainda chamada. Este ano a corrida levou muitos a uma rua sem saída. O sistema não comporta a população formada para trabalhar no sistema. O toque ouve-se à distância, ainda nos motiva, ainda nos cativa. E só um grande prazer e desafio,como o que começa com o toque para a aula, pode explicar a persistência do professor que sabe qual é o seu lugar.

nana Porto, 28 de Setembro 2004



Continua a fazer sentido na presente data! Aos não colocados deixo aqui o meu abracinho!!!

5 Comments:

At 10:29 AM, Blogger The Crow said...

O "melhor" que tem este país é que, por muito grande que seja a poça onde metemos a pata esquerda, há sempre uma outra poça onde meter a direita.

Obrigado pela visita. ;)

 
At 10:36 AM, Blogger albuquerque said...

se não te mata, fortalece-te!

 
At 10:44 AM, Blogger nana said...

the crow, obrigada pela visita e link lá no por outros lados!
"vire essa boca p'ra lá!!!"
para mau já basta!|!!

 
At 11:03 AM, Blogger The Crow said...

De nada. ;)
Não, o que quero dizer é que esta malta (leia-se: governantes) nunca aprende e essa é que é a verdade.

 
At 11:24 AM, Blogger nana said...

tens razão, crow!
:)

 

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