Thursday, October 13, 2005

este é um um texto triste

Toda a gente fala, comenta, supõe, cogita, sobre a Joana. Ninguém gosta de ter de assumir que no mundo acontecem coisas feias, daquelas obscenas, estas sim, impróprias para contar a crianças. O mal e as crianças são realidades que aprendemos opostas, desligadas. E todo o pai ou mãe tem como normal prioridade manter a distância máxima entre estes dois.”Que nada de mal aconteça ao meu menino…””Ao menino e ao borracho….”Desta vez não se completou bem o provérbio. O mal aconteceu à menina e foi em casa. Não estava sozinha, não foi vítima de um cruel desconhecido. Tudo, o horror, a violência desajustada e desmedida, o mesquinho motivo do “ataque” e da infeliz consequência irreversível, tudo aconteceu em casa, onde devia existir protecção, carinho incondicional e modelos de atitudes, uma vez que falamos de mãe, tio, adultos e de uma criança, houve afinal luta, agressão e morte. Não queremos acreditar. Foi a mãe? E não foi contrariada? Foi o tio? E a mãe, limitou-se a assistir? Tudo piora em grau quando pensamos que ambos podem ter atacado a Joana, quando pensamos que ambos se motivaram como se houvesse motivo suficiente, quando pensamos que Joana terá achado que o mundo dos adultos afinal devia ser todo assim, já que ninguém agiu em sua defesa.
Fico triste pela Joana que poderia vir a ser tanta coisa quando crescesse e que afinal fica na história como uma criança que era triste. Quem o não seria, num ambiente assim? Sem o que a vida tem de gratuitamente belo: os beijos, os carinhos, a segurança de um abraço, que é o que nos dá a coragem para enfrentar os lobos maus, que os há, que nos aparecem no caminho. Mas não gostava ou desejava para a Joana uma vida que a continuasse a fazer triste: Joana viveu com os lobos em casa, o medo deve tê-lo conhecido toda a vida, e sozinha conseguiu sobreviver-lhe oito anos. Era por certo uma menina valente.
Mas a triste história da Joana, ouvida, descrita, fotografada, filmada chegou a toda a parte. Os pequeninos também a ouviram. E mesmo sem sórdidos pormenores, estes perguntam-se muita coisa e questionam os que lhes estão próximos: Foi a mãe que lhe fez mal? Que tão grande asneira fez a menina? As mães são assim? E é triste ter de confessar que coisas destas acontecem perto de casa, por gente que nunca olharíamos segunda vez na rua, tal a normalidade que aparentam, Acontecem enormidades, o mundo não é um lugar muito seguro para se ser humano, quanto mais criança. E quando se diz isto, amenizado, disfarçado que seja, a uma criança estamos a dar-lhe uma notícia muito má, uma desilusão precoce, uma tristeza que é grande de mais para o seu pequeno corpo. E a tristeza é das coisas mais pesadas que há. Esta tristeza apaga a nossa sede de futuro, atrofia os sonhos, desfaz planos, mina o dia à dia. Sozinhos e sem uma mão que nos ampare, fica mais difícil sonhar. Esta desilusão com os grandes, que agora temos de contar aos nossos filhos, a Joana viveu-a na pele, continuadamente. Morreu uma menina triste.
Um país revolta-se, reclama, reage, refila, grita e chora, mas as lágrimas da menina ninguém soube adivinhar, ou estancar ou impedir que caíssem. Com a menina triste há uma parte da nossa fé nos outros (pais e país) que morre de tristeza.

9 Comments:

At 6:36 AM, Blogger Miguel said...

Estou contigo!

Mais Dignidade e respeito pela Tristeza de um facto são valores em desuso em Portugal!

Justiça, sim! Exige-se!

Bom FDS e Bjks da Matilde

 
At 9:00 AM, Blogger nana said...

alex,se te fez ter que falar, já me deixa contente!
obrigada pela visita cá ao estaminé!
;)
miguel, um chhuác para todos lá em casa!
;)

 
At 10:21 AM, Blogger Luis Enrique said...

Este assunto de maltrato para as crianças é delicado. Porquê nunca se sabe, "de portas para dentro" quém ou quais crianças são, ou poderíam ser potencialmente maltratadas, fisica ou psicologicamente. Pode ser na casa de un vizinho, de um familiar, quem sabe. A questão é que quando se tem informação com relação a isto há que denunciar, custe o que custar !. Muito bem Nana.

 
At 10:23 AM, Blogger asterisco said...

É em casos destes, que eu começo a pensar se não se poderá, assim de vezes em quando, presumir a culpa.
É que reviram-se-me coração, tripas, estomago e mais alguns orgão internos.

 
At 11:23 AM, Blogger mfc said...

Felizmente o caso Joana é uma excepção, mas escondido anda por aí muita criança maltratada.
Esta é uma luta sem fim, mas não há que esmorecer!

 
At 1:12 PM, Blogger Luis Enrique said...

Esqueci-me dizer que também há aquelas crianças que são obrigadas a pedir dinheiro na rua (obrigadas pelos seus familiares), isso é maltrato flagrante, que em Europa já não se ve muito, mas na América do Sul se ve com muita frequencia. Mas o que fazer nestes casos?. Elas, as crianças, são obrigadas a guardarem silêncio. É só ve-las na rua, como mendicantes, para uma pessoa entender que elas são obrigadas a isso, o sistema também leva-as até aí e os familiares contribuim. Já estes são casos muito graves, que derivam da pobreza, da falta de orientação das pessoas etc. E muitas vezes não há organizações serias que se encarreguem destes assuntos.

 
At 11:06 PM, Blogger Geosapiens said...

...bonita homenagem...só acho que com este mediatismo...corronpem a memória da miuda...podem alertar...mas violentam-na mais uma vez...um abraço...

 
At 4:33 AM, Blogger Freddy said...

Deus me perdoe mas q ardam no inferno...

Beijitos da Zona Franca

 
At 1:22 PM, Blogger nana said...

chute,asterisco,mfc,amante da poesia, freddy e geosapiens,
a todos, obrigada por terem lido!

 

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